HISTÓRIAS REAIS

Acreditar

“C. queria ser boa aluna a tudo, mas, aos 14 anos, as dores de cabeça insuportáveis superaram o drama de escolher uma área de estudos e profissão. Pelos livros, sabia o que era o cancro e só deseja voltar aos seus problemas antigos. Os pais arregaçaram as mangas e, com a Acreditar, tudo fizeram para que o medo e dureza dos tratamentos não a fizessem perder a enorme sede de futuro. Com acompanhamento psicológico, definiu estratégias para lidar com a nova realidade. O corpo, ainda não refeito da puberdade, mudava a cada dia de forma assustadora. Com apontamentos de colegas e o apoio de professores voluntários estava menos aflita por ter de faltar às aulas, e, com o grupo de jovens, participou em todos os workshops: fertilidade, nutrição, defesa dos direitos, etc. Foram tempos difíceis também para a família de C. Hoje, continua em vigilância. As sequelas são muitas mas para quem sabe tudo por que o sistema nervoso central passou, fica fascinada com a complexidade do corpo humano, a sua tendência para a regeneração e, claro, a medicina. Passaram mais anos do que “o suposto”, mas agora sem a mínima crise vocacional, está dedicada ao curso de enfermagem. Com muito menos ansiedade, C. continua a procurar respostas para os porquês da vida.”

Aldeias SOS

“Fernando Melo é um jovem que soube transformar desafios em oportunidades. Criado na Casa de Acolhimento Residencial de Gulpilhares desde os 6 anos, foi lá que descobriu a paixão pela música. Começou a ter aulas de piano aos 7 anos e, mais tarde, cursou Áudio Visual na Universidade de Braga. Em 2022, foi para Itália para um estágio, ampliando a sua perspetiva internacional e aperfeiçoando as suas habilidades. Além da sua dedicação profissional, encontra inspiração na música e na fotografia, utilizando a sua câmara para capturar "emoções que vive no seu cotidiano". A jornada de Fernando, marcada pela resiliência e determinação, reflete a capacidade de superar adversidades e aproveitar ao máximo cada oportunidade, com talento e perseverança”.

APAV

“Aos 11 anos, Ana (nome fictício) assistiu ao homicídio da mãe e foi viver com a irmã, também ela vítima de violência doméstica. Ana teve coragem de ligar para o Gabinete de Apoio à Vítima, conseguindo que a irmã pedisse ajuda. Surgiram vagas numa Casa de Abrigo para Ana, a irmã e as suas duas filhas. Não perderam a oportunidade: “Era muito provável que a minha irmã viesse a terminar da mesma forma que a minha mãe”. O próprio agressor tinha feito essa ameaça. Mas, na Casa de Abrigo, tudo foi diferente. “Estamos a falar de um sítio onde as pessoas são vistas na sua individualidade e reconhecidas por aquilo que são. Ainda hoje penso nas técnicas que nos acolheram quase como parte da família.” Mesmo assim, Ana continuou a sentir culpa ao pensar no que podia ter feito para ajudar a mãe. Só há alguns anos começou a libertar-se deste peso. Hoje, tem um namorado que a trata bem, mas vive preocupada com alguma parte obscura que não esteja a identificar. “Tens de fazer um esforço muito grande no dia a dia para conseguires atenuar isso e encontrar alguma paz.” Ana fez um mestrado e uma pós-graduação e hoje é independente e tem esperança no futuro. Quanto à irmã, não parece a mesma: Ana assegura que evoluiu bastante a nível físico e psicológico."

Salvador

“Francisca, Rafael e Guilherme Nobre, trigémeos com 12 anos, têm diversas questões de saúde: Francisca tem paralisia cerebral e Guilherme e Rafael têm síndrome de Leigh, uma doença rara degenerativa e sem cura. Apesar desta difícil conjuntura, a família não baixou os braços: a mãe, Sandra, assumiu o papel de cuidadora dos filhos, tornando-se o pai, António, a única fonte de rendimento da família, num percurso marcado por mudanças e aprendizagens constantes. Como não podiam adquirir os equipamentos que fariam a diferença na vida dos filhos, procuraram ajuda, e conseguiram-na. Hoje, Francisca beneficia de um fato de estimulação elétrica para reduzir os espasmos e ativar os músculos, melhorando a sua motricidade, e uma cama articulada, e Guilherme de uma cadeira de posicionamento que permite atenuar as deformidades existentes e permanecer mais tempo sentado, e uma cadeira de transporte automóvel. António e Sandra afirmam que estes apoios foram essenciais para melhorar a qualidade de vida dos filhos, contribuindo para a sua saúde, segurança e felicidade.”

Cáritas

“A Priscila chegou a Portugal com as suas três filhas menores, à procura de um futuro melhor. Disseram-lhe que Portugal era um país de muitas oportunidades e que seria simples e rápido encontrar trabalho. No início, ficou alojada em Lisboa, em casa de familiares. No entanto, apesar de várias promessas de emprego, as dificuldades foram surgindo com o passar do tempo. Não conseguiu arranjar trabalho e a situação tornou-se cada vez mais complicada. As rendas eram muito altas e os familiares pediram-lhe que contribuísse para as despesas da casa. Contudo, sem qualquer rendimento, isso era impossível. Num telefonema com uma amiga que tinha emigrado para Portugal uns meses antes e que vivia em Braga, esta sugeriu-lhe que se mudasse para lá, onde as rendas eram mais baixas. Priscila concordou. Foi aí que conheceu o projeto B!Equal-E9G, onde procurou apoio. No âmbito do projeto, conseguiu encontrar trabalho, onde ainda se mantém hoje, e também uma casa com uma renda acessível, que foi mobilada com o apoio de outros participantes do projeto. Atualmente, a Priscila continua a frequentar o projeto e gosta de partilhar a sua história com outras pessoas, inspirando quem está a passar por dificuldades semelhantes.”

Cruz Vermelha

“Quando Ana chegou a Portugal, trazia nos braços uma recém-nascida e no coração a esperança de um futuro melhor. Contudo, os primeiros passos foram marcados por desafios. Sem emprego, sem poupanças e a viver numa casa sobrecarregada, o peso das responsabilidades parecia insuportável. Num dos momentos mais difíceis, Ana encontrou-nos e conseguiu recuperar dignidade e autonomia. Pela primeira vez, podia escolher o que comprar, garantindo o essencial para a sua filha e aliviando a pressão financeira sobre a família. Conseguiu reorganizar as suas prioridades, pagar a renda e recomeçar. Hoje, olha para Portugal como o país onde reconstruiu as suas bases e onde encontrou solidariedade quando mais precisava.”

Fundação do Gil

“A vida de Rafael Malheiro foi uma luta constante. Retirado, tal como o irmão, aos pais, que enfrentavam sérios problemas de dependência e violência, encontrou segurança na Casa, mas o abandono da mãe, o suicídio do pai e os maus-tratos que sofreu junto dos tios, à guarda de quem ficou temporariamente, marcaram-no muito. Quando ficou ao cuidado da avó paterna, conheceu um período de paz, dedicação e amor e, hoje, é a sua vez de retribuir. “Tratar as senhoras do Lar como tratei e trato a minha avó é uma maneira de agradecer tudo o que ela me deu, e trabalhar no Gil é uma tentativa de ajudar a minha criança interior, que, devido às adversidades que vivi, pouco existiu de forma plena e feliz. Ao trabalhar no Gil, procuro dar aos jovens um exemplo de que, apesar de tudo, há sempre luz no fim do túnel. Não quero que minha história seja vista como um pedido de compaixão, mas como prova de que é possível reerguer-nos”. Diariamente, memórias e dores vêm à tona, e há dias em que a vontade de chorar é grande, mas aprendeu a seguir em frente. No futuro, quer seguir psicologia ou terapia ocupacional, áreas em que poderá apoiar outras pessoas que, como ele, enfrentam desafios emocionais e de desenvolvimento. “Quando a vida te rouba a infância e a dor vira companheira, levantar é um ato de coragem; mostrar força é uma escolha. Que cada cicatriz te lembre que, mesmo nas sombras, há um caminho para a luz.”

FROC

“A vida dos pais para, mas tudo o resto à volta continua. Há que gerir, tratar, resolver de forma a que nos consigamos centrar na criança e naquilo que nós, como pais, a nível do bem-estar, a nível do conforto, a nível da distração, de tudo aquilo que nós podemos fazer. […] Não estamos sozinhos, a Fundação faz muito esse papel: poder chegar a nós de uma forma clara, que o leigo consegue perceber e identificar-se com aquilo que lá está. Por isso, eu acho que é um trabalho exemplar.” Testemunho da Mãe de uma criança com cancro."

JAC

“Em 2017, 100 voluntários inexperientes, um mestre de obras novo em projetos comunitários e parceiros que nunca tinham visto a instituição atuar abraçaram o primeiro projeto no Porto: ajudar o sr. Francisco. Conhecido como “Padeiro” na ilha onde sempre viveu, tinha 54 anos, vivia sozinho e enfrentava dificuldades diárias. Sem emprego, apenas com o 4º ano de escolaridade e uma incapacidade auditiva de 70%, dependia de um rendimento mínimo de menos de 200€ mensais. A falta de condições na sua casa impedia-o até de viver com a namorada, o que o entristecia profundamente. Durante quatro meses, a sua casa foi transformada e, com ela, a sua vida. Chico, como passou a ser chamado, envolveu-se ativamente na obra, tornando-se parte da solução. No final, tinha uma casa segura, água quente e novas oportunidades. A sua confiança renasceu, encontrou trabalho e conseguiu viver com a namorada. A comunidade, que no início olhava com desconfiança, juntou-se à instituição numa grande festa. Três anos depois, Chico continua na sua casa, trabalha como padeiro e ajuda outras pessoas. A sua história simboliza o impacto de reabilitar casas: reconstruir vidas e inspirar mudanças duradouras.”

Make a Wish

“Embora tímida e inicialmente desconfiada do poder transformador de um desejo realizado, a Beatriz partilhou com as voluntárias que, apesar de não conhecer muitos locais pessoalmente e nunca ter ido à praia, era fascinada por animais marinhos. A condição de saúde da Beatriz condiciona a sua autonomia, pois tem dificuldade em deslocar-se e está dependente dos bombeiros para se poder movimentar, o que também impacta a dinâmica da família. Através de um jogo de palavras, percebeu-se que o grande desejo da Beatriz era ter uma bicicleta adaptada, construída de forma personalizada, de acordo com as suas necessidades. O dia do desejo foi uma surpresa vivida com muita emoção por toda a família: começou com um passeio Hippo Trip, seguido de um piquenique, onde foi desvendada a tão desejada bicicleta que ia mudar para sempre a sua vida e lhe daria mais autonomia e o poder de conhecer o mundo sob duas rodas! No fim do dia, a família foi ao oceanário e disfrutaram todos muito do universo marinho. Este dia em família, onde várias barreiras foram superadas, foi uma oportunidade para abrir horizontes e mostrou como um passeio fora das suas rotinas pode ser uma experiência tão simples, mas tão transformadora. Como partilhou a família, “nunca tínhamos tido um dia tão feliz.”

Nariz Vermelho

“No contexto do hospital, e em particular da pediatria, o choro é característica de ocorrência natural na paisagem acústica. Nesse dia, os Doutores Palhaços andam pelo corredor e ouvem um choro intenso, vindo da sala de tratamentos. É o G., de 5 anos, agitado e num pranto. As enfermeiras querem tirar-lhe um dreno da bochecha e mudar-lhe o penso no braço. Os Doutores Palhaços espreitam à porta e, imediatamente, o menino reage, ainda choroso. Chamam pelo seu nome. O menino volta o olhar para o braço e, outra vez, ouve o seu nome. Aos poucos, o G. vai transferindo a atenção do braço para os palhaços e o choro desaparece. Ao ouvir o seu nome, foi como se uma linha fronteiriça se tivesse desenhado e outro lugar emocional se tivesse aberto, o do Encontro, a partir de onde o G. já podia sentir outras coisas. “Têm de vir aqui mais vezes!”, disse a enfermeira, impressionada. Quase metade das crianças da pediatria foi atendida e os Doutores Palhaços nem saíram do lugar!”

Novo Futuro

“Maria foi acolhida aos 8 anos, após a morte da mãe, a ausência do pai e a inexistência de apoio familiar. Foi sempre uma criança muito problemática, com acompanhamento em pedopsiquiatria e psicologia. O seu percurso escolar foi irregular, até iniciar a frequência do ensino técnico profissional, que concluiu com sucesso. Saiu da casa de acolhimento ao chegar à maioridade, por querer ter maior liberdade. De início, a sua vida foi instável em termos profissionais e pessoais, mas, entretanto, constituiu família e hoje é mãe e mantém emprego estável. Curiosamente, na sua organização doméstica e familiar, reproduz o que vivenciou e aprendeu na instituição”.

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Aldeias SOS
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Salvador
Cáritas
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Fundação Gil
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JAC
MAW
Nariz Vermelho
Novo Futuro
SIC Esperança